Romances não estão, sem sombra de dúvida, entre os meus géneros literários preferidos. É por isso que quando pego num livro de romance este é geralmente histórico ou um clássico. Jane Austen é fantástica a abordar problemas de feminismo -- da sua altura -- e distinções de classe e não me envergonho de gostar dela.
Esta retinência é em pegar nestes livros, sempre com medo que seja muito ligados ao romance e pouco há História, levou-me a adiar esta leitura. Mas "A Chama ao Vento" foi escrito por uma colega da Coolbooks e já tinha lido boas críticas ao seu trabalho.
Autora: Carla M. Soares (aka colega da Coolbooks)
Editora: Coolbooks (não acabei de dizer?)
Páginas: 430 (na versão eWook)
Sinopse: Um corpo anónimo é lançado à água num misterioso voo noturno
sobre o Atlântico…
Vivem-se os anos mais negros da Segunda Guerra
Mundial, e a vida brilha com a força e a fragilidade de uma chama ao vento. Na
Lisboa de espiões e fugitivos dos anos 40, João Lopes apresenta à sua amiga
Carmo um estrangeiro mais velho, homem de segredos e intenções obscuras que
depressa a seduz, atraindo os dois jovens para uma teia de mistérios e paixões
de consequências imprevistas.
Anos volvidos, Francisco, jornalista, homem
inquieto, pouco sabe de si próprio e menos ainda de Carmo, a avó silenciosa que
o criou, chama apagada de outros tempos. É João Lopes quem promete trazer-lhe a
sua história inesperada, história da família e dos passados perdidos nos tempos
revoltos da Segunda Grande Guerra e da Revolução de Abril. Para João, é uma
história há muito devida. Para Francisco, o derrubar dos muros que ergueu em
torno da memória e da própria vida.
Um retrato íntimo de Portugal em três gerações,
pela talentosa escritora de Alma Rebelde.
Opinião: Depois de ler tantos livros em inglês (por serem mais
baratos e fáceis de adquirir) comecei a sentir que a minha escrita, tanto nas traduções da vertente inglês-português como criativa, estava a ser indubitavelmente
prejudicada, pelo que decidi escolher algo para ler na língua portuguesa. “A
Chama ao Vento” foi uma excelente escolha. Carla M. Soares escreve num
português limpo, fluido e rico de uma forma não pretensiosa e complicada com o
qual tenho por vezes o infortúnio de me deparar.
Devo admitir que não foi uma história que me agarrou logo
nas primeiras páginas, mas as alterações entre a atualidade e o passado
intrigavam-me e deixavam-me cheia de curiosidade; cada vez que reparava num
flashback a caminho abria de repente os olhos e perguntava-me o que raio se
estaria ali a passar. Foi isto que me fez continuar e, quando cheguei ao
terceiro capítulo reparei que já estava tão submersa no livro que não seria
capaz de o pousar mesmo que necessitasse, já tanto o passado como o presente
me fascinavam de forma igual.
Apesar da narrativa ser feita inicialmente na perspetiva de
um homem, achei que a autora conseguiu captar bem a essência do seu personagem,
Francisco, um homem fechado e distante -- resultado de falta de conhecimento de si mesmo -- e apesar de não apreciar a maneira como deixa Teresa do lado fora,
compreendo as suas razões.
Teresa, é sem dúvida, a minha personagem preferida do rol de
mulheres descritas. É uma mulher dos tempos modernos que, como qualquer mulher
apaixonada, abdica um pouco da sua própria felicidade e dos seus desejos para
manter-se ao lado do homem que ama numa esperança contínua que ele mude ou
recompense tal dedicação com uma parte de si mesmo, sem no entanto fechar os
olhos ou perder a dignidade quando se apercebe que demais é demais e por vezes
é necessário desistir daqueles que não querem ser salvos.
A narrativa do passado acontece no seio da Segunda Guerra
Mundial, do qual Portugal não fez parte. Adorei o contraste da autora ao
descrever Lisboa como uma cidade bela e antiquada, mas como ao mesmo tempo representa Portugal como um país retrógrado e lento a aceitar os novos tempos, assim como a
sua reflexão da ignorância vivida pelo país face à guerra que decorria no mundo
lá fora.
“A Chama ao Vento” também aborda tópicos como a ingenuidade
de um primeiro amor, mas é aqui que confesso fiquei um bocado desiludida com a
razão que apagou a chama de Carmo (perder um amor é algo duro, mas quando esse
é o único motivo que faz com que uma pessoa se torne num zombie, eu perco um pouco o respeito por tais
mulheres, especialmente quando estas têm pessoas a depender de si; como o filho
dela. Gostaria que Carmo tivesse mais envolvida em assuntos políticos e fosse
as atrocidades que sofreu que a tivessem deixado assim).
Também gostaria de ter ficado a saber mais sobre a mãe de
Francisco. O que fez com que ela não voltasse depois de ter tentado voltar ao país? O que faz uma
mãe abandonar o filho?
No entanto, entendo que os tempos eram outros, força não era
algo encorajado nas mulheres e nem todos os personagens são obrigados a agir
como desejamos, são essas falhas que os tornam autênticos e nos fazem conectar
com eles e ler uma página atrás da outra.
"A Chama ao Vento" pode ser adquirido no site da Coolbooks. Também podes ler um excerto aqui.